sábado, 4 de julho de 2009

A sala do consultório

Em alguns textos o pastor Ricardo Gondim me transporta para a realidade que está decifrando. O texto abaixo é um deles. Concordo em gênero, número e grau.

Detesto esperar por médico. No Brasil, marca-se uma consulta para as três horas para ser atendido às quatro. Essa falta de consideração com os pacientes já é cultural. Mas pior, pior mesmo, é ser obrigado a ler revistas espalhadas pelas poltronas plásticas. E saber como os ricos e famosos comem, dormem e transam.


Não há suplício maior para quem já está doente. Haja estômago!Não suporto as fotos posadas de endinheirado querendo exibir salas, potros, malas e novos amores. Todas parecem falsas, com um retoque de mentira; parecem flor artificial em penteadeira de lupanar. Todavia, vencido pelo tédio do atraso médico, fraquejo e começo a folhear as revistas velhas (porque os consultório só têm revista velha?)

O estômago embrulha com os casamentos luxuosos, com os iates, com as viagens a Bariloche. Não suporto os risos marmorizados. Acho difícil engolir a farsa pequeno-burguesa. Nessas revistas – algumas possuem ilha e castelo – o paraíso fica pertinho. E retratado com quatro cores. Ninguém sofre – riquinho não chora, só se chateia –, ninguém se angustia, ninguém toma ansiolítico. Nenhum é mau marido. Nenhum sonega imposto. Pelo rosto, dá para imaginar como as mulheres são ótimas na cama (?!?!).

Os apaniguados da injustiça social são grandes ingênuos. Não atinam para o ridículo que se expõem. Talvez saibam que não estão sós. O povaréu os admira porque também quer escapar da crueldade da existência. A verdade que agride é igualitária. E as revistas vendem. Existe uma multidão que ambiciona ganhar o dinheiro que os bacanas ostentam. A Grande Farsa seduz. O que importa? Nem que seja em sonho, o povão quer aquela irrealidade. Auto-enganar-se em uma ilha grega parece bem melhor do que nas praias sujas e lotadas das grandes cidades. O que é melhor, beber conhaque em copo de geléia ou vinho francês em taça de cristal?

Os sortudos servem, assim, de espelho. A plebe fascinada se projeta na ilusão. O Céu parece plausível. E fica ali, pertinho. O Nirvana se realiza todas as semanas. A Cidade Celestial desce à terra em cada edição. Antes de morrer, alguns já entraram pelos Portões de Pérola, não há dúvida. Ao povaréu, resta rezar, orar, dar o dízimo, apelar para santo Expedito, obedecer aos conselhos do apóstolo. Talvez, um dia, experimentem o mesmo ócio bendito.

Igrejas neopentecostais, loterias, revistas de fofoca, são a mesma coisa. Todos prometem à ralé a sublime graça de gargalharem enquanto o restolho humano trabalha, sofre e agoniza. De agora em diante, escolherei médico pelas revistas que disponibilizar no consultório. Ando empapuçado com promessa religiosa e com novo rico metido a besta.

Soli Deo Gloria

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